FAMOSOS, MILIONÁRIOS E...PROFESSORES


Famosos, milionários e... professores

Na Coreia do Sul, onde o ensino é obsessão nacional, quem se destaca por dar boas aulas atrai multidões de alunos, vira celebridade e até distribui autógrafos

Foto: Gilberto Tadday
Foto: Kwon Kyu-Ho cravou seu primeiro milhão de dólares em 2011 e tornou-se a mais nova celebridade das salas de aula da Coreia
Kwon Kyu-Ho cravou seu primeiro milhão de dólares em 2011 e tornou-se a mais nova celebridade das salas de aula da Coreia

Os cabelos cuidadosamente repicados ficam ao sabor do vento quando Woo Hyeong-Cheol rasga as ruas de Seul a bordo de seu Mercedes conversível. Ele guarda o tesouro na garagem do confortável apartamento onde convivem lado a lado um tapete de zebra comprado no Quênia, porcelanas do Egito e um vidrinho de Chanel nº 5 para trazer ao ambiente os ares de Paris. Aos 43 anos, Woo já se habituou a ser abordado aos gritos de "É ele! É ele!". Dá autógrafos como uma tarefa mecânica, à qual se acostumou depois que passou a ter fama e dinheiro. De óculos escuros e com uma camisa florida que deixa entrever um pesado pingente brilhante, Woo tem pinta e conta bancária compatíveis com as de certas estrelas do pop coreano. Mas foi alçado ao olimpo dos milionários da Coreia do Sul trilhando um caminho bem menos previsível - e surpreendente aos olhos de qualquer brasileiro: ele é professor. Seu título informal, Salvador dos Fracassados na Matemática, ajuda a entender sua reputação em um país onde o desempenho escolar é obsessão nacional. "Quanto mais alunos têm sucesso comigo, mais eu consigo atrair, e assim me mantenho na elite", explica o mestre, com a mesma capacidade de síntese que usa para ensinar sua matéria.

Woo integra um grupo de professores cujas aulas são acompanhadas todos os dias por centenas de milhares de estudantes que os veneram. A internet foi um divisor de águas em sua vida e na dos outros mestres-celebridade. Essa turma já tinha acumulado certo dinheiro e notoriedade - algo que eles conquistaram alçando seus alunos ao topo e reforçaram com aparições na TV e em outdoors nos quais sobressaem seus sorrisos alvos. Mas esses professores jamais alcançariam tanta projeção na era pré-web. Eles não são os únicos no mundo a ver sua carreira na docência impulsionada pela rede - a popularização da educação on-line é um fenômeno mundial e crescente. Em poucos países, porém, se disseminou por todos os níveis do ensino e por uma parcela tão grande da população: oito de cada dez alunos coreanos frequentam uma sala de aula virtual - só Hong Kong e Singapura chegam perto. Por isso, os feitos acadêmicos de Woo e de seus colegas se tornaram assunto corrente nas rodas de especialistas interessados em aliar tecnologia e educação.

A rotina dos que despontaram para a fama inclui liturgias dignas de pop star. O professor de inglês Andrew Kim, 43 anos, não sai de casa sem uma generosa camada de base para disfarçar o brilho da face. Usa ternos Hugo Boss de corte impecável, vive cercado de gente que o assessora na produção das aulas e vai à escola de motorista. Sua ascensão é visível. Ele mora no Tower Palace, conjunto de apartamentos de 3 000 metros quadrados de área que custam até 10 milhões de dólares. Sua residência fica em Gangnam, o endereço dos novos endinheirados de Seul, lugar que ganhou súbita visibilidade depois de um certo rapper Psy estourar na internet com um clipe em que desancava o estilo de vida local. Muitas escolas que servem de palco para os mestres mais cultuados do país funcionam ali, vizinhas a clínicas de cirurgia plástica e às grifes internacionais da Rodeo Street (que faz lembrar mesmo a luxuosíssima Rodeo Drive de Beverly Hills, da qual roubou o nome). Kim tem ainda uma casa em Chino Hills, a uma hora de Los Angeles, onde cultiva uma adega com mimos como um Château Margaux safra 2000 e recicla, digamos assim, as ideias para novos livros e apostilas que levam a sua marca - atividade que também reforça o caixa de seus colegas. Ali joga golfe e vai às livrarias. "Se gosto de um livro, faço o resumo de parágrafos inteiros e o uso em minhas próprias publicações", explica sem nenhuma cerimônia.


Revista Veja

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